Descrição
Em tempo de acelerada globalização – traduzindo uma cada vez mais acentuada mundialização da economia –, tem ganhado espaço o discurso da diluição das fronteiras, do esmaecimento, não tanto das diferenças, mas das barreiras e singularidades de processos que, então, se mostravam bem mais dinâmicos e integrados. Sabemos, todavia, que tais articulações e interações, nem de longe significam paridade e equidade.
No plano acadêmico, termos como interdisciplinaridade, multidiscipli-naridade e transdisciplinaridade também se consagraram, rearticulando saberes (para usar uma expressão tão cara a Edigar Morin) e aquecendo o debate no interior de disciplinas que, fechadas em si mesmas, viam-se cada vez com mais dificuldades de pensar o mundo e dar as respostas adequadas aos desafios que ele apresentava.
Neste contexto, afirmar identidades, singularidades, pode, equivocadamente, sinalizar um passo atrás, um movimento de recuo ante uma tendência da contemporaneidade tida como inexorável.
Não é esse o programa ou a proposta de “Nós da Amazônia”. Tão pouco esse acento “amazônico” traduz-se ali na cilada histórica de se encerrar no gueto de um regionalismo estreito e estéril. Para os coordenadores da coletânea, firmar uma identidade é antes indicar o local social de onde emerge uma fala e um discurso que assume o desafio do debate, buscando nele um protagonismo que sempre lhes foi negado.
É, portanto, muito mais um movimento de reação ao rolo compressor em que se traduzem na Amazônia um conjunto de discursos, ideias e representações, totalizadoras e mirabolantes que, gestadas fora e acima do circuito de produção regional, o ignora olimpicamente, no mesmo instante em que, assumindo um papel modelar, quer lhes ditar temas, abordagens e linhas interpretativas.
Para além das fronteiras que se diluem e dos processos que se entrelaçam, há, na fala dos autores, uma Amazônia cuja dimensão humana recusa continuamente enquadramentos e esquematismos antigos e modernos – última página do Gênesis, pulmão do mundo –, para revelar-se como realidade histórica e cultural que não apenas assume o direito de ler e compreender o mundo a sua própria maneira, como também reafirma o desejo de pensar por conta própria e de trilhar seu próprio caminho.
Prof. Dr. Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro
Professor Associado da Universidade Federal do Amazonas – Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq
Avaliações
Não há avaliações ainda.