O país dos bem-te-vis – é um ensaio sobre a inveja no conjunto dos hábitos sociais brasileiros. Trata das raízes, a formação histórica, a gênese das tradições e valores nacionais e identifica a inveja como característica humana universal. Aponta a extensa ação da inveja na cultura do Brasil contemporâneo, e descreve as soluções e saídas possíveis.
É uma análise interessante da história do comportamento invejoso entre nós, desde a insensibilidade quanto ao extermínio dos índios, a escravidão e o sadismo da família patriarcal escravocrata, ressaltando a contribuição definitiva da Santa Inquisição e da excessiva religiosidade portuguesa na desvalorização da morte trágica. A formação do país foi marcada pela atuação intensa da Inquisição em Portugal e no Brasil, a perseguição, as mortes, as denúncias por interesse, a inversão de valores espirituais, as propinas e privilégios, a corrupção, atitudes e situações impressas permanentemente na alma nacional desde então. Esclarece a emotividade, capaz de inveja e ódio, como qualidade brasileira, e a identificação projetiva. Ao final apresenta a pesquisa IBOPE sobre os números da inveja na nossa sociedade.
O país dos bem-te-vis estuda a origem e identidade do sentimento: a inveja do seio na formação de todo ser humano, o Édipo na família, as onipresentes invejas do pênis e do útero, inveja nos mitos e nas religiões. Verifica que o ser humano pode escolher o pior mesmo sabendo o que é o melhor para si, e expõe como a inveja paralisa o tempo: no mundo do invejoso só o presente tem importância. Ou seja, individualmente e para a nossa sociedade, o futuro não existe, nem o passado, vive-se num eterno presente repetindo-se incessantemente os mesmos erros.
Também aborda a inveja na manifestação cultural brasileira nos dias de hoje: a maledicência, a mentira, a negação da responsabilidade – tão comum nas nossas ações, individuais, sociais e institucionais. Analisa a autoinveja, a inveja de si mesmo, individual e do conjunto da sociedade, seus inúmeros componentes entre si e com o Estado. A pressão invejosa marca toda criatividade para destruí-la e permite a banalização da violência em todos os níveis. A repressão, unida à falta de valor, conduz a indivíduos limitados e grosseiros.
Recusar a bondade impede o aprendizado com a experiência, a transmissão do saber para as gerações seguintes, razão pela qual cada geração aqui começa do zero: a incrível negligência brasileira para com a educação e o raciocínio, desde a época colonial.
Para concluir, a autora apresenta soluções: a necessidade humana de curar-se e fazer reparações é libertador para todos os envolvidos, incluindo os mortos. A gratidão – força natural, universal e contrária à inveja, para a qual o Brasil é pleno de razões –; a reverência ao sagrado, o perdão, a espiritualidade, que é força motriz de comportamentos, uma das maiores carências nacionais a ser preenchida com urgência. Reverência e admiração implicam em compreensão do que é melhor e a participação consciente nisso, ressaltando a capacidade brasileira para a alegria, para a festa coletiva onde não há inveja, mas união do e no conjunto, onde o povo alcança uma perfeição, um traço efetivo de saúde mental e moral.
[adrotate banner=”4″]