Descrição
Cultura, Poder e Simbolismo
Várias razões recomendam a leitura deste livro. A primeira delas é que o presente conjunto de abordagens aqui reunidas em torno desse tema e desenvolvidas nos ensaios que o compõem, têm como primeiro atributo apontar para a riqueza de possibilidades epistêmicas que tais temas encerram.
Já em sua Apresentação, Gimima Silva, recorrendo à inspirada composição musical de Gilberto Gil “ A Novidade”, que tem como personagem a sereia, cuja interpretação se reveste de amplas e contrastantes significações e que prepara o leitor para o ambiente que aos poucos vai sendo criado por cada ensaio do livro, com temáticas na realidade diferenciadas, mas que vão revelando aspectos que os aproximam.
Em Amazônia diante do confronto epistêmico entre a rede indígena e o leito de procrusto: um ensaio irredento em forma de notas filosóficas, José Alcimar procede a uma leitura da Amazônia a partir da polarização e do confronto epistêmico entre a rede indígena e sua flexibilidade, maleabilidade e leveza e a dureza e rigidez do pensamento cartesiano ocidental simbolizado pelo conhecido leito de procrusto, que nos leva a pensar no eurocentrismo do qual estamos prisioneiros, na medida em que se recusa a reconhecer outras formas de sentir e saber.
O ensaio de Airton Souza de Oliveira aborda o universo poético de Agostinho Neto a partir da leitura crítica de seu livro “Poemas de Angola” e das diferentes aproximações que o poeta faz da geografia, das lutas políticas, dos dramas sociais e mesmo de uma aproximação com a obra de Walter Benjamin, particularmente de seu ensaio “Experiência e Pobreza”, evidenciando assim que a “literatura de testemunho” propõe simultaneamente a instauração de outras realidades possíveis.
No ensaio A construção do “inimigo” vermelho e as origens do anticomunismo no Exército Brasileiro, Adriano de Freixo e Luiz Otávio Monteiro Junior empreendem um exame retrospectivo do surgimento do anticomunismo como a ideologia dominante no Exército Brasileiro, descrevendo os principais momentos históricos dessa percepção política dos militares, em especial os do Exército, dominante até os tempos presentes, hoje personificada como ideologia populista de direita na figura do atual Presidente da República.
O ensaio final faz a abordagem da temática Cultura, Poder e Simbolismo nos festejos religiosos na Amazônia analisando o livro de Maria Tereza Corrêa “Princesa do Madeira: os festejos entre as populações ribeirinhas de Humaitá”. Seguindo a organização da obra, Gimima Beatriz Melo da Silva e Lúcia Marina Puga Ferreira destacam de sua primeira parte, o cenário dos festejos: o “porto da Anta”, onde são destacados os aspectos econômicos, históricos e geográficos de Humaitá. Na segunda parte a autora descreve a presença da igreja católica na região, através do Compadrio místico: um jeito encantado de festejar, e caracterizar a Festa da Imaculada Conceição. Mais analítica é a terceira parte, ao acrescentar uma outra dimensão ao estudos dos festejos onde se faz presente uma discussão teórico-antropológica na qual estão presentes autores como Clifford Geertz, Victor Turner e sua obra O Processo Ritual, da mesma forma que Marcel Mauss é examinado juntamente com Heraldo Maués no exame da situação do potlach.
O ensaio conclui que o trabalho de Maria Terezinha Correa traz esclarecimentos relevantes em torno dos festejos religiosos de Humaitá em um cenário envolto por relações orientadas pelo simbolismo.
Portanto, esse conjunto de ensaios, partindo de campos teóricos distintos, representam uma mostra da riqueza das possibilidades epistêmicas que se dispõe para a compreensão da interação entre Cultura, Poder e Simbolismo nas relações do mundo contemporâneo.
Renan Freitas Pinto
Doutor em Ciências Sociais.
Professor titular da Universidade
Federal do Amazonas.
Professor Visitante do Programa de
Pos-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – PPGICH/UEA (Bolsista CAPES/PVSN).
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