Descrição
A coletânea Educação e Cultura face aos desafios do mundo moderno e contemporâneo, organizada pela professora Luciana Marino do Nascimento, traz um conjunto de textos de professores e pesquisadores de universidades, sobretudo da Universidade Federal do Acre, acerca da Educação Escolar. Esses textos contêm desde dados acerca da Educação escolar primária do início do século passado até análise das políticas de alterações dos currículos de cursos universitários da década de 1990, passando por discussões pertinentes à educação inclusiva e à educação a distância; esses temas são tratados de perspectivas histórica, sociológica, psicológica e pedagógica.
Se há diversidade de temas, eles são internamente associados, sem que haja necessariamente intenção dessa relação. Assim, em um dos textos, há a informação que nas escolas do início do século passado encontra-se a tendência a incluir alunos de ambos os sexos e jovens e adultos que possam ter dificuldade de frequentar a escola durante o dia, prenunciando a atual discussão sobre a educação inclusiva apresentada em outros textos; em um texto que analisa gestões de governadores do Estado do Acre, mostra-se a ausência de convergência entre propostas e realizações, ao passo que outro indica as pressões que sofrem as universidades para se modificarem em conformidade com o mercado; em ambos apresenta-se a política pragmática que não se refere diretamente à cidadania, mas a proximidade de propósitos políticos e/ou econômicos.
É comum aos textos considerar a educação como um direito social, e um deles denuncia que esse direito, nos últimos tempos, tem se transformado em serviço prestado, podendo dessa forma, não ser oferecido somente pelo estado. A contraposição real, e não de perspectiva de análise dos autores, a essa transformação aparece em outro texto que indica as múltiplas funções dadas ao estado pelos que dirigiam o território do Acre no início do século passado para promover a integração social. De um lado, um estado que promove em diversas áreas as condições para a existência de um indivíduo democrático, de outro, o estado deve formar para o mercado.
O desenvolvimento da aptidão para a leitura e o reconhecimento da linguagem de sinais brasileira, a expansão da cultura pelos novos meios de comunicação, que possibilitam ampliar a educação a distância, indicam também a reflexão sobre a inclusão social. A discussão sobre o currículo e a transdisciplinaridade indicam a pós-modernidade que se deriva e se contrapõe à modernidade, apresentada, sobretudo, nos textos sobre a educação escolar no início do século passado.
Conforme mencionado, esses confrontos e complementações de dados e de informações entre os textos não são explicitadas, apesar disso, é interessante ver a perspectiva histórica, possibilitada pelo conjunto de textos que permite verificar a continuidade e a ruptura entre tendências passadas e atuais; confrontos esses não redutíveis à mera transformação de uma tendência na outra, mas na sua coexistência. Assim, se a educação inclusiva pede pela heterogeneidade, no passado, mas também no presente, nas escolas que privilegiam o desempenho e a competência em detrimento da experiência, no sentido que Walter Benjamin atribui a esse termo, no quanto comporta de sabedoria e articulação entre a coletividade e o indivíduo, a homogeneidade obsta a percepção de dificuldades diferenciadas, percepção essa defendida pelos proponentes da educação inclusiva.
Antes da discussão sobre a educação inclusiva já havia a contraposição, que continua a existir, entre educação humanista e educação tecnológica. Ora, nos textos que tratam da educação a distância, a existência de uma das posições possíveis ante este embate é explicitada: a convivência entre a educação presencial e aquela transmitida pela máquina, ainda que mediada por pessoas, e a coexistência entre o livro impresso e os textos da internet; se é a posição mais adequada, cabe ao leitor decidir; de todo modo, há excelentes argumentos em defesa da citada possibilidade.
A educação para a cidadania e a educação para o mercado também reapresentam o confronto entre formação humanista ou formação tecnológica; se é claro que essa é uma falsa contraposição, uma vez que toda formação deveria ser destinada ao convívio pacífico entre os homens, e que a educação humanista é propícia à reflexão e à crítica, desejáveis para quem almeja uma sociedade justa e democrática, a educação tecnológica contribui para a produção de riquezas materiais e intelectuais necessária para que ninguém mais viva na miséria e assim esta sociedade possa ser justa.
Pelas questões levantadas e por tantas outras, a leitura desta coletânea contribui de maneira significativa para a compreensão da educação em nosso país e em nosso tempo: ao se voltar para o passado, permite rever promessas cumpridas e as que foram abandonadas e que cabe retomar; ao se dirigir ao presente, indica o que a educação escolar pode estar perdendo ao ceder às pressões feitas e o que se vislumbra a favor da formação de uma humanidade que não precise mais alijar nenhum dos homens da substancial experiência acumulada ao longo de nossa história.
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