Este livro é uma versão razoavelmente modificada de minha dissertação de mestrado defendida no ano de 2001 no Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ. O título gigantesco do trabalho era “Baixada Fluminense: identidades e transformações. Estudo de relações políticas na Baixada Fluminense. A criação do município de Belford Roxo e a mitificação política de seu primeiro prefeito”.
Nesses 20 anos, eu voltei pouco às questões centrais da dissertação. Preocupado com aquilo que primeiramente me chamou a atenção na história política da região onde nasci – a investigação microscópica de lideranças populares que em nenhum momento da vida participaram efetivamente da vida institucional em municípios da Baixada Fluminense –, terminei por pensar pouco na figura do primeiro prefeito de Belford Roxo e na investigação da maneira como o estilo de liderança inaugurado por ele terminou se perpetuando nessa periferia.
O que me chamou de volta para o assunto foi a surpresa que algum tempo atrás tive ao descobrir que partes de minha dissertação eram utilizadas em cursos de História e Geografia na região da baixada e também a descoberta de que o último governo municipal de Belford Roxo (2017-2020) promove uma violenta dilapidação dos símbolos muito caros ao prefeito Jorge Julio Costa dos Santos (Joca) e que acabaram se transformando em marcas identitárias do próprio município.
Não que a destruição do pórtico inaugurado pelo primeiro prefeito em 1994 ou a extinção do dia de “São Joca” (20 de junho) me perturbe e eu me perceba como defensor da memória dele. Longe disso. Mas ao ver os entulhos do pórtico construído pelo primeiro prefeito, relembrei da força daquilo que gerou o fenômeno “Joca” e pensei no tanto que era inútil destroçar os símbolos de algo que foi somente o sintoma das maneiras próprias dos colonizadores proletários da baixada resolverem seus problemas práticos.
A última ideia expressa na dissertação foi a de que Joca era descartável, uma vez que aquilo que o gerou continuava vivo e ele morto.
Não exatamente reescrevi meu trabalho. Penso que isso seria injusto com aquele que eu era no final dos anos 1990. Foi impossível, entretanto, não tentar corrigir os muitos erros que cometi por inexperiência, incompetência ou desejo de abraçar o mundo inteiro, como ocorre sempre com quem estreia na pesquisa histórica.
Por fim, gostaria que este texto fosse, como disse Jean Genet no seu Diário de um Ladrão, “(…) um presente fixado com a ajuda do passado, não o contrário”.
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