Descrição
A América do Sul é um dos continentes mais importantes no que se refere a descobrimentos de dinossauros. Embora estes registros sejam numericamente inferior aos reportados para América do Norte e Ásia, o que está documentado em nosso continente é de suma importância para compreender os aspectos destacados da evolução dos dinossauros, tais como suas origens no Período no Triássico, a aquisição de tamanhos gigantescos, os efeitos da fragmentação geográfica do Gondwana sobre as comunidades dinossaurianas, e a transição dinossauro-ave. Mais ainda, as rochas mesozoicas da América do Sul deram exemplos muito interessantes da história evolutiva de clados dinossaurianos não registrados em outras partes do mundo.
O trabalho realizado em afloramentos mesozoicos sul americanos permitiu ampliar a lista de taxa em mais de 50 espécies de dinossauros, diagnosticados baseando-se em características osteológicas, o que revela que uma complexa história evolutiva ocorreu em nossas terras. O registro fóssil sul americano compreende os períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo, que ilustram acerca de destacados capítulos evolutivos desde suas origens e diversificação até à extinção do grupo. Agora sabemos que o território sul americano esteve povoado por dinossauros de diversas afiliações, em companhia de uma ampla diversidade de outros vertebrados, particularmente arcossaurios basais, crocodilomorfos, e sinápsidos (incluindo mamíferos), que documentam adaptações e tendências evolutivas muito diferentes à de seus parentes laurásicos.
Enquanto a maior parte do que se conhece desta diversidade de dinossauros e outros tetrápodes são provenientes fundamentalmente da Patagônia argentina, importantes achados estão sendo realizados, nos últimos anos, no Brasil (consistentes em material ósseo, dentes, pegadas e ovos), o que permitiu enriquecer nosso panorama acerca da radiação adaptativa desta variedade de criaturas gondwânicas. São várias as bacias cretáceas do Brasil onde são encontrados fósseis de dinossauros, tais como Araripe, São Luís, Sousa, Rio do Peixe, mas, sem sombra de dúvidas, é a Bacia Bauru a que possui a maior riqueza em restos fósseis de répteis em geral e dinossauros em particular.
As rochas portadoras de fósseis de tetrápodes do Grupo Bauru foram acumuladas durante os últimos 30 milhões de anos do Período Cretáceo, e se estendem amplamente por vários estados do centro-sul brasileiro. O “Triângulo Mineiro”, no estado de Minas Gerais, é uma região famosa, pois ali se concentra a maior quantidade de descobertas de restos de dinossauros, crocodilomorfos e tartarugas. As primeiras descrições se remontam à década de 1930, tendo sido estudados por renomados paleontólogos como Frederich von Huene e mais tarde pelo pesquisador brasileiro Lewelling Ivor Price.
No entanto, os estudos paleontológicos mais abrangentes e sistemáticos foram realizados nos últimos 15 anos, resultando em um incremento substancial de descobrimentos de fósseis de invertebrados e vertebrados. Isto permite uma melhor compreensão do significado paleobiológico dos fósseis do Grupo Bauru no contexto do que se conhece para o resto do continente sul americano, em especial da Patagônia. Com o propósito de ressaltar a importância científica que possui o “Triângulo Mineiro”, Carlos Roberto A. Candeiro e Leonardo S. Avilla reuniram no presente livro uma série de contribuições que sintetizam o que se conhece até agora acerca da geologia e conteúdos paleontológicos desta famosa região do Brasil.
O livro é composto de treze capítulos escritos por diferentes especialistas do Brasil, Uruguai e Argentina. O Capítulo I, a cargo de Janaina Zito Losada, analisa o desenvolvimento histórico das investigações científicas no Triângulo Mineiro. O Capítulo II, escrito por Luiz Antônio de Oliveira, analisa a Bacia Bauru a partir de um ponto de vista geológico, descrevendo, entre outras unidades, as formações Adamantina e Marilia, que são as mais abundantes em restos paleontológicos. No Capítulo III, Edivane Cardoso e Etiene Fabbrin Pires resumem o que se conhece acerca do conteúdo paleobotânico da Formação Botucatu e Formação Adamantina, restringindo-se à troncos silicificados e restos de algas. Nos capítulos seguintes revisam o registro de vertebrados fósseis da Bacia Bauru, começando pelo panorama acerca dos peixes de água doce (Capítulo IV), a cargo de Yuri Modesto Alves, Lilian Pagliarelli Bergqvist e Paulo Marques Machado Brito, onde destacam a relevância desta evidência para o entendimento da prematura evolução de grupos de peixes neotropicais atuais. No Capítulo V, Felipe Muniz e Carlos Roberto A. Candeiro efetuam uma atualização do conhecimento sobre os anfíbios coletados nas formações Adamantina e Marilia, os quais aportam dados sumamente valiosos para a compreensão da história paleobiogeográfica Cretácea deste espécime. O Capítulo VI, a cargo de Pedro Seyferth Romano e Schmaltz Hsiou, está dedicado ao estudo dos lepidosaurios (lagartos e serpentes), ainda pouco conhecidos, e dos testudinos, ao contrário, abundantemente documentados no Triângulo Mineiro. No Capítulo VII, Felipe Chinaglia Montefeltro e Max Cardoso Langer efetuam uma revisão do grupo de vertebrados com melhor representação no registro fóssil da Bacia Bauru: Os crocodiliformes. Estes répteis são conhecidos por numerosos crânios e esqueletos, muitos deles completos e articulados, os quais constituem, de longe, a fonte mais informativa da evolução dos crocodiliformes do Cretáceo sul americano e por extensão de Gondwana. O Capítulo IX, escrito por Rodrigo Miloni Santucci, analisa o que se conhece sobre os titanossauros, que pertence ao grupo de dinossauros mais frequentemente encontrado no Triângulo Mineiro, e dos quais se dispões não somente de material ósseo como também de ovos. O Capítulo X, desenvolvido por Carlos Roberto A. Candeiro revisa as informações disponíveis sobre a diversidade dos dinossauros terópodes (aves incluídas), destacando formas de relações com o Cretáceo da Argentina. O Capítulo XI (escrito por Camila Tavares Pereira e coautores) e o Capítulo XII (por Roberto Barboza Castanho e Diego Sullivan de Jesus Alves) apresentam, respectivamente, listas taxonômicas que resumem o conteúdo fossilífero das formações Adamantina, Uberaba e Marília, assim como uma síntese das localidades do Triângulo Mineiro onde foram documentados materiais fósseis. Por último, o Capítulo XIII (escrito por Sebastián Apesteguía e colaboradores) apresenta uma análise integradora dos dinossauros cretáceos descobertos no Grupo Bauru, no Uruguai e na Bacia Neuquina do NW, da Patagônia.
Este livro coloca à disposição de estudantes e especialistas uma visão resumida e atualizada do que conhecemos do Triângulo Mineiro, mas fundamentalmente deixa claro que esta imensa região do Brasil possui uma riqueza fossilífera que ainda resta por ser conhecida. Uma riqueza oculta que permitirá reconstruir aspectos inquestionáveis acerca da evolução dos vertebrados. O desafio é, pois, descobri-la.
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